Por Deniele Simões
Mais de três décadas se passaram desde que a médica sanitarista e pediatra, Dra. Zilda Arns Neumann, deu início às primeiras ações da Pastoral da Criança, na cidade de Florestópolis (PR).
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Dr. Nelson Arns é coordenador adjunto da Pastoral da Criança |
O trabalho começou
em uma paróquia daquele município e foi se expandindo ao longo dos
anos. Hoje, a Pastoral está presente em todas as dioceses
brasileiras e em outros 17 países da África, Ásia, América Latina
e Caribe, sendo reconhecida como uma das mais importantes
instituições mundiais voltadas ao desenvolvimento integral
infantil.
Em visita a Curitiba, entrevistei o coordenador
nacional adjunto e filho da fundadora, Dr. Nelson Arns Neumann. O médico avalia quem, nesses 33 anos de atuação, muitos fatores contribuíram para a
mudança no panorama da saúde nas comunidades.
A criação do
Sistema Único de Saúde (SUS), a melhoria da renda dos brasileiros e
dos índices de saneamento básico no país, a mudança do foco na
abordagem médica, com ênfase na prevenção e na imunização por
meio de vacinas, são alguns dos fatores apontados pelo médico.
Somando-se a esses
avanços, a atuação dos líderes da Pastoral em todo o Brasil foi
provocando uma mudança de comportamento nas comunidades mais pobres.
“Esse processo foi muito interessante e hoje a gente vê as
famílias mais pobres sendo mais proativas e seguras no que se deve
fazer”, aponta.
Se a desnutrição e
a desidratação eram grandes desafios para a Pastoral na década de
1980, hoje a obesidade e a alimentação inadequada são questões
preocupantes. Ambas podem trazer consequências sérias para os
bebês. A campanha Mil Dias tem como foco esses novos desafios e vem
sendo trabalhada junto às comunidades atendidas.
Voluntariado
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Voluntárias Elisabete e Maria José, na sede da Pastoral |
Hoje, a Pastoral da
Criança acompanha mais de 1 milhão de crianças de zero a seis anos
em todo o Brasil. Esse acompanhamento é feito por 182.911
voluntários.
Nelson Arns atribui
o grande número de voluntários a vários fatores. Um deles é o
fato de o trabalho ser voltado às crianças. O segundo é o impacto
das ações promovidas, que acontecem a partir da formação e do
trabalho direcionado. “Após a formação, sempre tem o desafio da
realidade, na paróquia, na diocese, no estado, na coordenação
nacional; com isso, a pessoa sabe que está fazendo o bem, que não
está só e que trará resultados concretos para o resto da vida
dessa criança”, acrescenta.
A professora
aposentada Elisabete Piassetta, de Curitiba, sonhava em ser
voluntária e, inspirada pelo exemplo deixado pela Dra. Zilda, entrou
para a Pastoral, há três anos.
Elisabete mora perto
da sede nacional da Pastoral e sempre teve curiosidade conhecer o
trabalho realizado lá dentro. Um certo dia, resolveu entrar para
conhecer e acabou se tornando voluntária.
Na comunidade onde
morava não havia famílias em situação de vulnerabilidade social,
então adotou uma comunidade. “Cresci e aprendi tanto depois que
entrei como voluntária; ganhei um grupo, aprendi a ver como é o
trabalho na comunidade, como as coisas acontecem, quais são os
caminhos”, explica.
Para a aposentada,
integrar a Pastoral é um trabalho de doação. “É apaixonante
quando você vê aquelas pessoas mais simples se doando da forma como
elas se doam. Deixando o sábado e o domingo para uma comunidade, em
prol deles.”
A dona de casa Maria
José Martins Fabiano é voluntária há 17 anos e hoje coordena o
núcleo da grande metrópole de Curitiba, com 601 líderes que cuidam
de cerca de 2.000 famílias.
“Tudo o que a
gente faz procura fazer com amor e carinho, mas, quando a gente chega
na comunidade e vai querer doar alguma coisa, na verdade, é a gente
recebe”, diz.
A partir da presença
dos líderes nas comunidades, as famílias acabam mudando a forma
como vivem, a partir dos conhecimentos adquiridos, e passam a
ajudar-se mutuamente. “Na parte da alimentação, pessoas que
acompanhei, desde quando eu era líder, estão estudando nutrição
por causa da Pastoral. Algumas dizem que aprenderam a comer por causa
da Pastoral”, explica Maria José.
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Dra. Zilda Arns, idealizadora do trabalho |
Trabalho reconhecido
Criada em 1983, a
Pastoral da Criança é reconhecida como uma das mais importantes
organizações
mundiais a trabalhar
em programas voltados ao desenvolvimento integral das crianças. A
coordenação nacional do organismo está instalada em Curitiba (PR)
Números
Principais
programas:
– Acompanhamento
de crianças de zero a seis anos.
– Acompanhamento
de gestantes.
– Ações
complementares envolvendo brinquedos, brincadeiras, alimentação,
hortas caseiras, entre outras.
– Controle social
de políticas públicas através da ação junto a Conselhos de
Saúde, Direitos da Criança e do Adolescente, nos âmbitos nacional,
estadual e municipal.
Principais
indicadores (1º trimestre de 2015):
– 1.092.970
crianças acompanhadas.
– 902.685 famílias
cadastradas.
– 65.599 gestantes
acompanhadas.
– 182.911
voluntários em nível comunitário, sendo 101.682 líderes.
– Presença em
33.558 comunidades, em 3.717 municípios brasileiros.
– Presença em 17
países, além do Brasil.
Fonte: Sistema de
Informação da Pastoral da Criança
Presença
internacional
Além do Brasil, a
Pastoral da Criança está presente em outros 17 países, repetindo a
experiência de sucesso em localidades onde a situação é
semelhante à realidade brasileira de 33 anos atrás.
Mas, foi há quase
seis anos, quando a Pastoral recebeu um prêmio internacional, que a
experiência no exterior começou a tomar força. Com o dinheiro que
chega do exterior, foi possível organizar a Pastoral em outros
países.
Só que, para que
isso se tornasse possível, foi necessário montar uma Pastoral em
outro país, com legislação menos burocrática. “Infelizmente, o
Brasil é um país muito egoísta e a legislação não nos permite,
como Pastoral da Criança do Brasil, ajudar a Pastoral da Criança de
outros países”, explica.
A partir da fundação
da Pastoral no Uruguai, é possível depositar o recurso que chega
dos Estados Unidos e fazer as doações para que o trabalho avance
nesses países.
Dra. Zilda Arns,
morta em janeiro de 2010, durantemissão no Haiti, deixou sua marca
na história do Brasilao fundar e coordenar a Pastoral da Criança e
Pastoral
da Pessoa Idosa.
Viveu para defender as crianças, gestantes e idosos, visando a uma
sociedade mais justa, fraterna, com menos doenças e sofrimento. Mais
do que os 19 prêmios nacionais e internacionais recebidos e dezenas
de homenagens, o legado deixado por ela permanece vivo e a obra
ganha, a cada dia, mais adeptos.
A realidade do povo
assistido pela Pastoral no exterior é bem diferente da brasileira.
Segundo Nelson Arns, a Guatemala, um dos países atendidos, apresenta
um dos piores índices de desnutrição mundial.
A partir do trabalho
promovido pelo organismo e do envolvimento das comunidades, já é
possível ver a situação mudar.
Embora o índice de
desnutrição seja de 40% e a existência de 23 línguas oficiais
imponha grandes desafios, já são 6.000 crianças acompanhadas.
“O pessoal tem
muito boa vontade e começa a superar os diversos desafios. São
leigos atuantes, assim como existe no Brasil, já ganhando escala,
indo para a sétima diocese”, conta.
Ainda de acordo com
Arns, outros países onde o trabalho apresenta progresso são a
Colômbia, República Dominicana, Haiti, Guiné Bissau e Filipinas.
“É um processo dentro de cada realidade, adaptado à cultura”,
justifica.
Questões como
vacinação, aleitamento e parto natural são consideradas universais
e, de acordo com ele, o grande desafio tem sido trabalhar esses
conceitos de acordo com a adaptação cultural de cada país.
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