Adesivo criado por designer de São Paulo vira mania no País; uso fomenta discussões sobre relações interpessoais
Recentemente escrevi essa matéria para o Jornal Santuário. Ficou bem interessante e por isso decidi postar aqui.
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Ideia do designer foi valorizar a família |
Quem nunca viu aqueles bonequinhos colados na traseira dos carros? São adesivos representando a configuração da família do proprietário do veículo e que se transformaram em uma verdadeira mania.
De Norte a Sul do País, grande parte dos carros que circulam pelas ruas ostenta esse adereço, chamado de “Adesivo da Família Feliz”. A coordenadora administrativa Juliana Ribeiro Galbes, de 27 anos, é uma das adeptas da nova mania.
Na companhia do marido, Juliana costumava observar os carros que traziam esses adesivos. Os dois ficavam imaginando como seria a família de cada uma dessas pessoas e resolveram colocar o deles também.“Foi como uma brincadeira e a gente acabou fazendo também”, revela.
A justificativa da coordenadora, que afixou os adesivos há cerca de seis meses, foi a de dar uma demonstração de carinho à família, com os ícones representando um casal, uma garotinha e dois cachorrinhos.
A “febre” dos adesivos com a configuração das famílias começou a se espalhar há cerca de um ano e meio e surgiu de um ato de carinho, conforme explica o designer Germano Spadini, da Job Adesivos. “Eu já tinha os bonequinhos de um casal no carro. Aí, quando a minha esposa engravidou, a gente fez o bebê também e colocamos.”
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Professor José Euclimar |
A princípio, Germano criou os bonequinhos como forma de valorizar a família e não havia a ideia de comercialização do material. Por isso mesmo, o designer não imaginou que os adesivos fossem se transformar em um sucesso tão grande. “Acho até que só explodiu porque piratearam. Há uns dois anos, alguém soltou na 25 de Março (rua de forte comércio popular na Capital de São Paulo) um monte de bonequinhos desses e acabou dando certo”, justifica.
Nova valorização da família?
Ao lembrar como tudo começou, Germano afirma ficar muito feliz que a ideia tenha dado certo e caído no gosto popular. Afinal, como ele mesmo propôs ao criar os adesivos, trata-se da valorização familiar.
Nova valorização da família?
Ao lembrar como tudo começou, Germano afirma ficar muito feliz que a ideia tenha dado certo e caído no gosto popular. Afinal, como ele mesmo propôs ao criar os adesivos, trata-se da valorização familiar.
Na opinião de Juliana, os adesivos despertam um sentimento muito importante a respeito da família: o brio. “Você demonstra orgulho das pessoas com quem você convive. Às vezes, acaba faltando isso na sociedade, porque cada um é por si só”, salienta.
O professor do curso de mestrado em Família na Sociedade Contemporânea da Universidade Católica de Salvador (UCSal), José Euclimar Xavier de Menezes, elogia a iniciativa, mas não acredita que os adesivos sejam reflexo de uma nova valorização da família.
“Há pesquisas que revelam que na maior parte das famílias brasileiras, por exemplo, a felicidade não impera.”
“Há pesquisas que revelam que na maior parte das famílias brasileiras, por exemplo, a felicidade não impera.”
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Juliana Galbes |
O pesquisador atribui isso ao fato de o núcleo familiar não ser o lugar de vivência da felicidade para grande parte das pessoas. “Vários sociólogos dizem que as esposas correm mais riscos dentro de casa que fora dela, que o grau de violência contra a mulher é mais expressivo dentro do lar que fora dele. Não é constrangedor?”, questiona Menezes.
O acadêmico não considera que a valorização da família não pode decorrer da exibição de um adesivo criativo, que faz um marketing “divertido” e “interessante”. Porém, concorda que a disseminação dos bonequinhos explicita uma mensagem a ser passada. “Ao usá-los, a pessoa decide colocar uma espécie de autenticação de pertença: ‘eu, que possuo esse carro, faço parte de uma família que concebo assim...’. E a imagem personalizada apresenta, de forma direta, qual é esta concepção”, completa.
José Menezes acredita que os adesivos mostram um desejo de expressão e, por isso, não é possível afirmar se são positivos ou negativos. Fixa o adesivo no carro quem deseja e o desejo é altamente subjetivo. “Acompanho toda a polêmica entre psicólogos e gente preocupada com a segurança etc. Mas prefiro dar ênfase neste espaço à ideia de que o desejo de expressividade é absolutamente legítimo. E as formas são infinitivas, e depende da criatividade das pessoas.”
Na visão do bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e membro da Comissão Episcopal para a Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Antonio Augusto Dias Duarte, os adesivos fazem parte da comunicação entre as pessoas, já que vivemos na chamada “sociedade das imagens”.
O religioso acredita que os bonequinhos criados pelo designer Germano Spani refletem um anseio das pessoas em quererem ter uma família feliz. Entretanto, alerta para o fato de que a felicidade não deve ser o foco central. “O objetivo na vida é Deus e, quando se caminha para Deus, quando se vive uma comunhão profunda com Deus, então a felicidade aparece como um fruto dessa relação, dessa comunhão com Deus.”
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