quinta-feira, novembro 17, 2016

O que há por trás da onda de palhaços assustadores?


Desde outubro, uma onda de ataques promovidos por pessoas vestidas de palhaços tem causado pânico ao redor do mundo.

Escondidas atrás de máscaras, maquiagem carregada e narizes vermelhos, essas pessoas literalmente vêm “tocando o terror”, promovendo não só atos de vandalismo, destruindo o patrimônio público, como agredindo crianças, idosos e, até mesmo, praticando crimes mais severos.

No Brasil, as primeiras aparições de palhaços assustadores aconteceram em Curitiba (PR) e São Paulo (SP), como fotos compartilhadas nas principais redes sociais.

Mas, no último dia 8 de novembro, a situação começou a ganhar proporções mais realistas, com a prisão de um homem vestido de palhaço no terminal rodoviário da Central do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ).

O homem acabou sendo preso ao tentar fugir da presença de policiais militares que faziam ronda no local. Os PMs constataram que se tratava de um fugitivo da Justiça.


A prisão do criminoso é prova de que os comportamentos disseminados pelas redes sociais acabam se repetindo, tornando uma espécie de “viral” também no mundo offline, conforme explica a psicóloga e presidente da Associação de Hipnose do Estado do Rio de Janeiro (Ahierj), Marcia Mathias.


“Segundo Bandura (teórico da área de Psicologia), na infância, o ser humano aprende através de modelar, imitar o outro, só que o tempo passa, as pessoas crescem e, para chamar a atenção dos outros, copiam atitudes e comportamentos questionados pela sociedade”, justifica.

Para a especialista, esse tipo de comportamento vira uma “febre” rapidamente, nos dias de hoje, graças à viralização, por meio da internet e da televisão.

Marcia também vê nos atos de vandalismo uma forma que as pessoas encontraram de colocar a raiva para fora, usando como proteção o anonimato garantido pela fantasia.

Ainda de acordo com a psicóloga, além de as alegorias dificultarem a identificação dos infratores, eles agem sempre em grupo. “Nunca atuam sozinhos e o objetivo é mostrar poder”, opina.

Os relatos de palhaços assustadores no exterior deram conta, até mesmo, de agressões a pessoas que passavam nas ruas. Para a psicóloga, além dos danos físicos, esse tipo de ataque pode provocar graves transtornos. “Os danos psicológicos podem aparecer de imediato - que seria a ansiedade – , ou a longo prazo, com problemas como fobias e a síndrome do pânico”, orienta.

Por que os palhaços assustam?
Tradicionalmente, os palhaços são sinônimo de diversão e alegria. Mas, não é grande o número de crianças que se assustam ao vê-los.

De acordo com a psicóloga, as crianças, quando muito pequenas, têm alguns medos, não só de palhaços, como até do Papai Noel. “A psicologia vê que esse paradoxo surge da forma como a criança é apresentada a esta figura circense, que na realidade surgiu para substituir os bobos da corte, que devem trazer a alegria para as famílias”, justifica.

A estudante de jornalismo Annie Caroline Barbosa Santos, de 21 anos, tem certa repulsa por palhaços. “Para mim, a figura do palhaço nunca foi encantadora, sempre foi bastante assustadora. Lembro-me que, desde criança, eu não gostava de pessoas caracterizadas de palhaços, estando elas em festas particulares ou no centro da cidade ‘animando as vendas’”, conta.

Quando criança, Annie Caroline fugia dos palhaços porque ficava assustada com as roupas e, principalmente, com a maquiagem, a peruca e a risada deles.

O horror da futura jornalista por palhaços não parou na infância e continua até hoje. “Não consigo ficar no mesmo espaço em que está um palhaço, inclusive meu namorado já sabe disso e, quando ele observa um local em que há essa figura, já me faz trocar de calçada e ambiente”, revela.

Márcia acrescenta que esse tipo de repulsa pode ser explicada pelo contato que as pessoas tiveram com palhaços na infância. “O palhaço é a caricatura barulhenta, que deixa marcas positivas e/ou negativas da nossa infância, devido ao trauma que os pais criam, quando falam que o palhaço vai levar a criança que fizer bagunça, e outras mentiras para controlar o comportamento infantil”.

Ao falar sobre os recentes casos de palhaços assustadores em espaços públicos de várias cidades no exterior e no Brasil, a estudante diz acreditar que, em alguns casos, tratam-se de pessoas com distúrbios psicológicos.

“Infelizmente, observamos que o medo, o pânico, a desordem e feridas são alguns dos meios de prazer de algumas pessoas atualmente”, opina. Para ela, o fato de os ataques já terem acontecido em outras regiões é um grande fator para que se desperte a vontade de outras pessoas agirem da mesma forma.

“Na minha opinião, as curtidas, os compartilhamentos e os comentários 'engraçadinhos' em posts nas redes sociais só fazem com que essa vontade aumente, pois está gerando um “ibope” muito grande e é isso que muitas dessas pessoas da 'onda' de palhaços assustadores querem”, completa a estudante, que espera rigidez das autoridades para coibir esses atos de vandalismo.

A notícia dos palhaços assustadores também remete a um antigo costume do carnaval do Rio de Janeiro: os bate-bolas ou Clóvis, segundo a psicóloga.

Os bate-bolas se reuniam em grupos, vestidos de palhaços, para assustar as pessoas. “Sempre estavam encapuçados e batiam no chão bolas imensas de plástico, fazendo com que adultos e crianças, ficassem com medo, pois o som parecia ensurdecedor”, justifica.

Márcia lembra que os bate-bolas vinham de vários lados e, a exemplo dos palhaços assustadores de hoje, faziam aquilo para chamar a atenção.


Vilões disfarçados de palhaços
A exemplo do homem preso na Central do Brasil, no início do mês, muitos vilões usam o disfarce de palhaços para praticar crimes – fato bastante explorado nos cinemas.

Muitas produções de Hollywood já exploraram o lado “maligno” dos palhaços, mostrando-os como psicopatas e assaltantes. É o caso clássico do Coringa, arqui-inimigo do Batman.

Como explicar essa ligação entre palhaços e criminosos nesse tipo de filme, sob o aspecto comportamental e da psicologia? Na opinião de Márcia, o Coringa tem o aspecto comportamental caracterizado pela inteligência voltada para o mal, pela risada barulhenta e pelas charadas criadas para desvendar seus passos, testando o Batman o tempo todo.

Ao mesmo tempo, o palhaço é uma figura caricata, sempre muito maquiada, que traz a dualidade do bem e do mal, do eu gosto ou detesto, que marca a infância de todas as crianças.

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